Valorização humana, inovação e pioneirismo são os conceitos-chave na caminhada de mais de 50 anos da Cavenaghi, uma das principais empresas no mercado brasileiro de veículos acessíveis e que, por meio de cadeiras de rodas de alta performance, também promove mobilidade, independência e qualidade de vida de pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida.
A empresa surgiu de uma afinidade bastante inusitada. No bairro Santa Cruz, em São Paulo, o mecânico Giulio Michelotti, ex-combatente italiano que esteve na 2º Guerra Mundial, decidiu tornar possível o sonho de dirigir de um amigo que teve a perna esquerda amputada na mesma guerra, e que também veio viver no Brasil.
Acostumado a consertar carros antigos, Michelotti jamais havia feito qualquer projeto voltado a pessoas com deficiência, mas assumiu o desafio. Como à época os carros automáticos eram escassos e caros, ele criou um sistema personalizado, em que o motorista poderia controlar a embreagem do veículo como numa motocicleta, por meio de uma pequena alavanca acoplada ao câmbio original do carro.
O sucesso foi imediato e logo Michelotti passou a ser referência no bairro. Juntou-se, então, com Olevir Cavenaghi, com quem constituiu a empresa que leva o sobrenome de Olevir, e patenteou o projeto. “Foram 20 anos ininterruptos dedicados exclusivamente à missão de fazer com que qualquer pessoa com deficiência pudesse dirigir, até decidirmos expandir a nossa atuação”, explica Monica Cavenaghi, diretora comercial e de marketing da empresa.
Ampliação dos negócios
Com a experiência adquirida ao longo das primeiras décadas, a empresa decidiu mergulhar no universo de mobilidade mais a fundo, lançando uma linha de cadeiras de rodas que logo se tornou sucesso.
“Uma pessoa com deficiência motora tem um grande desejo de independência, autonomia e qualidade de vida. A partir dessa observação complementamos o que já era oferecido, trabalhando com cadeiras de roda de alta performance. Outro diferencial foi olharmos a individualidade de cada cliente e oferecermos o serviço de adequação postural, que é uma espécie de “alfaiataria” da cadeira de rodas que a torna única e minuciosamente adaptada a seu usuário. Além disso, desenvolvemos equipamentos para facilitar o embarque e desembarque do cadeirante em veículos adaptados”, explica Monica.
Desde então, a Cavenaghi se consolidou nesse segmento por criar, produzir, instalar e entregar adaptações veiculares com rigorosos padrões de qualidade, tecnologia, segurança e inovação, cumprindo todas as normativas previstas pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito), e tornando viável a condução veicular e o transporte das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, além de ser homologada pelas montadoras de veículos para adaptar diversos modelos automotivos.
“Somos todos um”: pandemia representou quebra de paradigmas
Apesar das restrições da pandemia do Covid-19, a Cavenaghi não precisou interromper as atividades por ser considerada atividade essencial (manutenção de cadeira de rodas e dos veículos adaptados), mas a paralisação de boa parte do setor automotivo causou certa apreensão.
“Tínhamos que manter o pagamento de aproximadamente 80 funcionários e operávamos com estoques altos e sem venda alguma. Não sabia como agir, mas logo percebi que a saída estava na união de forças. Destruí as hierarquias e criamos uma dinâmica de trabalho com reuniões semanais, com voz ativa a todos, e esse conceito gerou um resultado positivo. Somos todos um, e assim permaneceremos quando tudo voltar ao normal”, explicou Monica.
“A pandemia também foi um momento de aquecimento do mercado de veículos usados, e a gente entrou nessa esteira comercializando veículos usados já transformados. Deu muito certo e a gente vem crescendo”, complementou.
Estrutura atual
A Cavenaghi atualmente conta com loja virtual e duas lojas físicas (uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro), e uma rede de 20 oficinas autorizadas pelo Brasil. Também mantém rede de consultores espalhado pelo Brasil e um sistema de atendimento remoto, que conta com fisioterapeuta e terapeutas ocupacionais que fazem a prescrição de produtos.
“Com a pandemia nós fortalecemos o e-commerce e desenvolvemos um projeto de teleatendimento. Investimos em uma equipe maior de terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas especializados em tecnologia assistiva e começamos a utilizar a inteligência de dados e a divulgar esse novo serviço por WhatsApp”, diz.
Monica vê a falta de estabilidade social e econômica como o principal desafio para o desenvolvimento da indústria no Brasil, e cita a imprevisibilidade nacional como o principal obstáculo de desenvolvimento, além da falta de uma política voltada ao setor.
“No Brasil a tecnologia assistiva é paga pelo indivíduo e em outros países do mundo é sustentada pelo governo, que tem o entendimento de que quando o indivíduo é incluído na sociedade, ele se torna ativo, gera renda e paga impostos. Por aqui não dá para não admitir que caminhamos nos últimos 30 anos, mas ainda há muito o que fazer”, finalizou a diretora da Cavenaghi.