A Braile Biomédica nasceu pioneira e visionária. Fundada em 1977, a empresa tinha o objetivo de viabilizar a cirurgia cardíaca para toda a população e começou suas atividades desenvolvendo e produzindo válvulas biológicas cardíacas e enxertos de pericárdio bovino no país. Esses produtos foram os pilares para que o Brasil se tornasse um dos primeiros no ranking de cirurgias cardíacas.
Com sede em São José do Rio Preto, a Braile foi fundada pelo cirurgião cardiovascular, professor e doutor, Domingo Marcolino Braile (1938-2020), um dos mais respeitados e conceituados do país. Atualmente, a presidente Patrícia Braile está à frente da empresa que é um centro de excelência da indústria médica brasileira com produtos nas linhas cardiovascular, biológica, eletromédicos, endovascular, transcateter e oncologia, resultado de tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Ao todo, são cerca de 300 funcionários diretos que atuam no parque fabril, na administração e também em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) e no Campus Experimental formado pelo Centro Cirúrgico Experimental “Prof. Dr. E. J. Zerbini” e pelo Laboratório de Testes “Dr. Lino Braile e Dr. Lino Ítalo Braile”.
Resultados na pandemia
Os meses de isolamento social têm sido desafiadores e, ao mesmo tempo, incentivadores para a Braile Biomédica. A empresa obteve, em outubro, o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o equipamento que faz o tratamento de Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO em inglês). O projeto é resultado da parceria da Braile com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e o Instituto Eldorado.
“Nós tínhamos intenção de desenvolver o produto, mas no começo do ano ele não era prioridade. No início da pandemia, recebemos diversas solicitações nacionais e internacionais e optamos por adiantar o projeto. Entramos em contato com o Instituto Eldorado e a EMBRAPII e propusemos o desenvolvimento do ECMO”, lembra Patrícia Braile.
O equipamento eletromédico, também conhecido como “pulmão artificial” levou apenas quatro meses para ser desenvolvido. “É um produto de altíssima tecnologia e 100% fabricado no Brasil. Não tem como não ficarmos orgulhosos por desenvolvermos um equipamento extremamente complexo e que é essencial não só para quadros de insuficiência respiratória aguda (inclusive causados pela Covid-19), mas para casos de afogamento, transplantes e infarto”, completa.
Neste período, Patrícia destaca a união do setor. “Todos nos unimos para fazer acontecer. Para salvar vidas. As indústrias do setor de saúde mostraram para o Brasil e para o mundo que é possível concentrar esforços para que todos possam ser beneficiados”, acrescenta. Segundo a presidente da Braile, o momento revelou a competência, a capacidade e a rápida resposta diante das demandas que surgiram.
O aprendizado que fica
Mesmo estimulada pelo desenvolvimento do ECMO, a Braile Biomédica também foi atingida pelas consequências das medidas de isolamento social, geradas pela pandemia. Com o adiamento das cirurgias eletivas, Patrícia teve que promover uma série de adequações para que a empresa continuasse operando, incluindo redução de jornada e de salários, já que o faturamento estava em queda e a recuperação em curto prazo não seria possível.
De maneira geral, a presidente da Braile se diz satisfeita com as últimas conquistas, mas que ainda há muito para ser feito. “Daria nota dez para nós, mas não posso. Estamos no Brasil e tínhamos que prever um cronograma mais apurado por causa da nossa burocracia, que é desgastante e desestimulante. Nesse ponto, fomos entusiastas demais. Temos o sentimento que realmente estamos ajudando os pacientes, só que fica a sensação de que conquistamos e não levamos.”
Patrícia diz que, apesar de tudo, o desenvolvimento do ECMO trouxe ânimo para a empresa. “Tudo foi muito bem feito, dentro do cronograma e que engajou toda a empresa para que o projeto tivesse sucesso”. Ela destaca que esta pandemia serve para mostrar a força, a determinação e a criatividade da indústria de saúde. “Definitivamente, somos um setor estratégico no Brasil e para que possamos continuar respondendo de maneira assertiva e com qualidade e tecnologia, precisamos de políticas públicas que sustentem, fortaleçam e incentivem nosso setor, seja no fomento da inovação, da pesquisa e, principalmente, em políticas administrativas e fiscais que permitam competitividade justa dentro e fora do país.”