Do Brasil para o mundo: como a Biomecânica usa sua presença na Suíça para inovar

Criada em 1988, há sete anos a empresa se instalou na Europa para ganhar competitividade e explorar novos mercados

Tudo começou com uma caneta, papel em branco e uma vontade enorme de transformar um sonho em realidade. Três décadas depois, a empresa fundada por José Roberto Pengo ao criar um fixador externo em 1988, se tornou uma holding com empresas no Brasil e na Suíça, produzindo instrumentais e implantes ortopédicos, além de materiais correlatos de altíssima qualidade, que são vendidos em 14 países do mundo.

O segredo de sucesso da Biomecânica e do braço europeu da empresa, Bioscience? Criatividade para inovar e competir mesmo considerando todas as adversidades impostas pelo ambiente de negócios do país.

A Biomecânica possui mais de 300 representantes em todo território nacional e atende cerca de 2500 hospitais em todo país, devido à reputação de entregar produtos de qualidade construída ao longo de sua história. “Para sobreviver no mercado brasileiro de dispositivos médicos é fundamental compreender que sem criatividade, persistência e capacidade de se adaptar é impossível ter um negócio sustentável no Brasil, pois surgem adversidades todo o tempo”, explica Ricardo Brito, CMO da Biomecânica. 

Um dos exemplos de adversidades que a empresa tem que lidar é com os preços dos produtos que fornece. Tendo como seu principal cliente no país o SUS – Sistema Único de Saúde –, a Biomecânica sofre, por exemplo, com os preços praticados pelo Ministério da Saúde, que não reajusta a tabela de órteses e próteses há 15 anos. Mesmo com a alta dos custos, a empresa tem se adaptado para atender a demanda de saúde do setor público, sem repassar custos. “Há 10 anos, 90% da nossa demanda era o SUS. Por isso, usamos nossa criatividade para diversificar a carteira de clientes e entrar em novos mercados”, diz o executivo. Ele ressalta ainda que, entre os países emergentes, o Brasil é referência em indústria da saúde. Só não somos maiores porque falta incentivo governamental que crie um ambiente de inovação e estímulo para a indústria local.”

Essa capacidade de buscar soluções inovadoras é, para o executivo, o grande diferencial da empresa. “Temos demandas das mais variadas possíveis, o que demanda sermos uma empresa extremamente criativa. Trabalhamos muito duro para desenvolver as coisas. Porém, quando você vai buscar parcerias com universidades, laboratórios de pesquisa e governo, as coisas são mais complexas”. E foi buscando alternativas para inovar sem o apoio de um ecossistema local que permita o desenvolvimento de uma indústria de saúde de alta tecnologia, que o grupo tomou a decisão, há sete anos, de se estabelecer na Suíça. Assim nasceu a Bioscience, marca da holding na Europa. 

“A Suíça é o primeiro país em inovação e em MedTechs no mundo. Estamos com nossa planta no meio de todas as grandes empresas de saúde do mundo. E isso foi possível porque usamos o programa de investimento do governo suíço para iniciar nossas operações, algo impensável de se fazer com recursos próprios”, afirma o CMO da empresa. “Se temos condições de criar produtos de primeira linha para concorrer em qualquer mercado, precisamos estar no primeiro mundo”, destaca Brito. De lá pra cá, o grupo já registrou duas patentes na Europa e, além da linha de financiamento do governo local para viabilizar a produção, utiliza o conhecimento desenvolvido em universidades e centro de pesquisas locais para criar produtos. Com isso, foi possível diversificar os negócios e se livrar da “SUSdependência”. Hoje, a empresa tem 40% da sua produção destinada ao mercado premium via Bioscience; 50% da produção para o SUS e os 10% restantes são exportados para os outros países atendidos pela Biomecânica. 

“No Brasil você não consegue crédito nem para investimento em produção e nem para pesquisa. Por isso, a solução foi implementar nosso polo de desenvolvimento fora. Claro que o que criamos via Bioscience também é disponibilizado no mercado brasileiro. Mas é triste constatar que um país como nosso, com mentes brilhantes, perde recursos porque o empresário se sente sozinho e não consegue inovar localmente”, diz Brito. “O setor de saúde, em breve, será o maior do país e não temos algo que todos os países do mundo têm – incentivo para produzir e inovar em saúde”, finaliza.